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Darwin nas águas da evolução

.Um pequeno passeio Pela teoria da Evolução

“Mesmo na floresta, o solo está oculto sob uma massa de plantas orgânicas apodrecendo lentamente” (*Todas as citações de Charles Darwin)

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.)

Em um raro momento de calmaria, os troncos cobertos de fungos parecem estar em uma floresta mágica. Darwin considera a vegetação do extremo sul do continente americano escassa e triste, contrariando o que aqui se vê. Ssob o teto das coroas, ele lastima, não cresceriam nem cogumelos, musgos ou samambaias
“Diariamente, coloca-se aos olhos do geólogo que nada, nem mesmo o vento que sopra, é tão instável quanto a camada superior da crosta terrestre”
Darwin não relata sobre a luz do anoitecer nos Andes, aqui, ao norte da cidade chilena Lla Sserena. Sseu olhar está dirigido ao solo, no qual ele encontra em, grande altitude, muitas conchas. Ee conclui: as montanhas devem ter sido pressionadas para fora do mar. Ppara o pesquisador, mais um caso em que acontecimentos poderosos podem ser lidos em pequenos rastros
“A maioria dos produtos orgânicos é criatura local, que não se encontra em nenhum outro lugar”
A gigantesca mariposa cocytius antaeus caiu na armadilha dos pesquisadores na ilha Ssanta Cruz, em Ggalápagos. Pprovavelmente a borboleta imigrou recentemente da terra firme, como tantos outros insetos que ameaçam perturbar o equilíbrio da fauna insular. Darwin, porém, se queixa sobre a falta de insetos no arquipélago
A vila se parece com o seu nome: Puerto Hambre – Porto da Fome. A terra é cinza-azulada, o céu branco-acinzentado, o mar cinza-chumbo. Chove sem parar. Nunca vi algo mais triste, Charles Darwin escreve sobre a baía na costa da Argentina, onde havia ancorado em 1834 a bordo do navio de levantamento topográfico Beagle.
Perto dali, Fernão de Magalhães descobriu, em 1o de novembro de 1520, o estreito que leva o seu nome, dando passagem para a costa oeste da América do Sul e, consequentemente, para as terras das especiarias da Ásia. Por causa das inúmeras pequenas fogueiras, acesas pelos habitantes nativos nas colinas da região, o português chamou- a de Terra do Fogo
Com a gola levantada e o boné puxado sobre o rosto, estou caminhando pelo lugar. Pouco antes de a trilha terminar diante de um matagal intransponível, bem perto da costa, aparece um pequeno cemitério para marinheiros. O vento sudoeste gelado e úmido sopra uivando, ao passar pela corrente branca que cerca o gramado. Pintada com a mesma tinta branca, uma cruz de madeira sobressai entre outras nove sepulturas, separadas por simples estacas de madeira.
“Em memória do comandante Pringle Stokes”, diz a inscrição na cruz, “que faleceu em consequência dos efeitos das aflições e das penúrias que sofreu ao fazer o levantamento da costa oeste da Terra do Fogo”. Talvez não se possa parafrasear de maneira mais britânica um suicídio. Em agosto de 1828, em profunda depressão, o então capitão do Beagle se matou nessa região, com um tiro na cabeça.
Permaneço parado diante da cruz por mais tempo do que seria aconselhável sob chuva e frio. Sem esse tiro fatal, Darwin não teria sido convidado a embarcar a bordo do Beagle e eu também não estaria parado aqui. Após a tragédia com Stokes, o tenente Rrobert FitzRroy, de 23 anos, foi nomeado capitão. Ele prosseguiu com os trabalhos topográficos e conduziu o navio de forma segura à Grã-Bretanha.
Quando em 1831 recebe novamente a tarefa de velejar para a América do Sul e retomar a missão, o capitão pede licença ao almirantado para levar consigo um civil, cavalheiro de boa instrução e com conhecimentos em ciências naturais, para fazer-lhe companhia à mesa e como interlocutor. FitzRroy está ciente de suas próprias fraquezas e não quer passar pela mesma situação que seu predecessor. Por uma feliz coincidência, o lugar é oferecido ao jovem Charles Darwin, de 22 anos, que, sem titubear, agarra a chance de sua vida com as duas mãos.
Durante cinco anos ele viaja em torno do mundo. Ao longo desses anos, ele cria os fundamentos para sua obra do século, A origem das espécies, com a qual, há 150 anos, redefiniu a imagem que o homem tinha de si e de seu lugar no mundo. A consequência mais conhecida de sua teoria da evolução é a de que o homem descenda de primatas.
Eu segui a sua senda para entender como Darwin descobriu e encadeou os tijolos para sua estrutura mental única. A força criativa da morte já lhe havia sido mostrada com os fósseis no Pampa e na Patagônia. Aqui, na Terra do Fogo, ele observa pela primeira vez a história de sua própria espécie.
Dentre os 76 viajantes que zarpam da Inglaterra no final de 1831 com o Beagle, encontravam-se também três fueguinos, além de Darwin, os oficiais e a tripulação. Durante sua primeira viagem, FitzRoy os fizera reféns, depois que outros nativos lhe haviam roubado um barco de pesca – e os levara para a Grã-Bretanha, onde receberam educação anglo-cristã. Agora, voltando para sua terra, o capitão pretende que eles ajudem a construir uma nova estação missionária na ilha Navarino, ao norte de Cabo Horn, e que convençam os outros membros de sua tribo a adotar a cultura europeia.
Até hoje, a baía de Wulaia, onde FitzRoy desembarcou os fueguinos, só pode ser acessada pela água. Nas cercanias da chilena Puerto Williams, a cidade mais meridional do planeta, capitán Eugênio declarase disposto a me transportar até ela. Ele é uma dessas pessoas que as longas permanências em terra tornam inquietas e que já devem ter nascido com um gorro de lã azul na cabeça. Após meia hora deixamos o canal Beagle e nos dirigimos ao sul em uma estreita hidrovia. Não há nenhum barco à vista, tampouco outro sinal qualquer de vida humana. Nesses fiordes entre ilhas íngremes com mata cerrada, quase nada mudou desde os tempos de Darwin. A floresta densa, quase intransponível, chega até o nível da água, de modo que a terra habitável se restringe às grandes pedras na margem.
Quando Darwin avista pela primeira vez os parentes diretos de seus companheiros de viagem indígenas, ele compreende a extensão de sua própria espécie. À vista de tais homens é quase impossível tentar nos convencer de que eles sejam nossos semelhantes e habitantes de um e o mesmo mundo. Mas, também, é aqui que surge um dos maiores enganos de sua carreira: que escala de melhoria abrange as capacidades de um selvagem fueguino e de um Sir Isac Newton!, Darwin escreve em seu diário. Será que permaneceram no mesmo estado desde a criação do mundo? Embora o pesquisador naturalista acredite que os “selvagens” pertençam à mesma espécie que ele, classifica-os biologicamente – não apenas civilizacional ou culturalmente – em uma etapa evolutiva mais baixa.
Na argentina Ushuaia, do outro lado do Canal de Beagle, descendentes dos fueguinos guardam em um pequeno museu a memória do “mundo yámana”, o mundo de seus ancestrais. Ficaram gravadas em minha memória principalmente as fotos em preto e branco de uma expedição de pesquisa francesa, nos anos de 1882 e 1883: os nativos nus, agachados timidamente sob suas choças, cabanas parcialmente abertas feitas de taipa, ou em suas canoas – a única propriedade da família -, em cujo centro arde uma pequena fogueira. Cinco crianças estão em torno de uma poça, da qual bebem água como gatinhos de uma tigela.
Como será que esses nômades canoeiros conseguiram sobreviver por milênios nessa região inóspita no fim do mundo, e ainda por cima nus? Eu decidi penetrar um pouco terra adentro. Logo atrás dos campos em volta do atracadouro de Wulaia, onde também eu começo minha caminhada, se estende a mata verde úmida. Na floresta, o solo está escondido embaixo de uma massa orgânica de plantas em decomposição, que, ao ser pisada, cede, pois está saturada de água.
No fim do mundo – e de uma vida – tudo tem o seu começo
Na atmosfera sombria das montanhas da Terra do Fogo, o ex-capitão do Beagle, Pringle Stokes, comete suicídio. A fim de não se ver na mesma situação desesperadora, seu sucessor, Robert FitzRoy, pede ao almirantado permissão para levar a bordo um interlocutor com boa instrução. A escolha recai sobre Charles Darwin
Atualmente, a criação de ovinos é a base alimentar para boa parte da população no sul do Chile. Um cogumelo arbóreo amarelo, segundo Darwin, “viscoso”, é uma importante fonte de vitaminas dos nativos da Terra do Fogo. Em seu habitat natural, como a cidade argentina de Ushuaia, as florestas de faias lenga dão lugar, a partir de aproximadamente 500 metros de altitude, a uma escassa vegetação de arbustos – ao passo que em regiões da costa chilena, essas florestas chegam a altitudes três vezes maiores
Onde a terra quase não dá nada para sobreviver
Um jardim do Éden tem outra aparência aqui, em uma fonte de vitamina como nenhuma outra em lugar algum: trata-se de um cogumelo amarelo-claro, em forma de esfera, que nasce em grande número nas faias. Eu colho uma bola madura, ela se parece com um pêssego, tanto no tato quanto na consistência. Ele tem um sabor levemente adocicado e meloso, cheirando a champignon. Agora já estou com Darwin até no estômago, pois o cogumelo pertence a uma espécie estranha; é chamado de cyttaria darwinI, segundo seu descobridor. Mas essa planta dificilmente sacia a fome de uma pessoa. Os yámana retiram da água gelada seu alimento principal.
Alcanço a praia todo enlameado. Pelo menos uma vez quero sentir até onde chegou a adaptação dos fueguinos nus. Quando o Sol aparece por entre as nuvens, fazendo brilhar os bosques de algas laminariales perto da superfície, tomo uma decisão: tiro as roupas e mergulho de cabeça na água.
Cinco graus centígrados. Uma dor como um golpe, depois uma brasa que passa pelo corpo todo. Logo depois, com a sensação de ter perdido toda a capacidade de sentir qualquer coisa, permaneço alguns segundos flutuando anestesiado, sem ar. Vejo peixes desviando de mim, camarões fugindo e ostras se fechando; são imagens como tiros, brilhantes, como as algas vermelhas e verdes. E volta aquela brasa, primeiro na cabeça, de lá atravessa o corpo até os pés, que só querem sair desse inferno gelado.
Então foi isso que ele, – o selvagem fueguino, o senhor miserável dessa terra miserável -, suportou. Depois, raptado, aprendeu a falar inglês e a rezar. Se, ao contrário, eu tivesse sido criado como criança enjeitada entre os yámana, eu saberia construir canoas com cascas de árvores, pescar com lanças e, todo coberto de gordura, iria catar ostras na água gelada.
Graças ao desenvolvimento de nossa capacidade cultural, a evolução nos transformou na espécie com maior habilidade de adaptação dentre as espécies mais desenvolvidas.
Cristina Calderón é a última yámana pura. Depois dela, ninguém mais cresceu falando a língua yámana, que tem um verbo para cada atividade especial que ocorre na vida de um índio. “Akeamana”, por exemplo, significa: verificar com caibro e martelo, se a madeira de uma árvore é boa para cortar. Quando em 1832, Darwin encontra os ancestrais de Calderón na Terra do Fogo, ele fica chocado com a vida dura e “miserável” deles
Eu devo ter ficado bastante tempo diante das fotografias dos yámana. Vários grupos de turistas já haviam passado por trás de mim, quando então uma pequena mulher, de uns 50 anos, se colocou ao meu lado e disse: “O senhor parece interessar-se muito por nós.” – “Nós? Mas existem ainda descendentes vivos?” – “Se contarmos também os mestiços, somos ainda uns cem.” – “E se não os contarmos?” – “Então tem apenas uma.” – “Uma?” – “Ela se chama Cristina Calderón e tem 78 anos.”
n a manhã seguinte eu tenho a oportunidade de cumprimentar a hermana mayor entre os seus. Um pequeno grupo de não mais que 20 pessoas, todas jovens, descendentes de diversos povos, reuniu-se na periferia de Ushuaia, em um local de cerimônias, em torno de uma pequena fogueira, o símbolo de sua cultura. A maioria usa jaquetas baratas e calças de moletom. Estão passando tigelas entre si, das quais bebem uma espécie de limonada com gosto de fermento. Um celular toca, dois meninos jogam futebol, passa correndo um grupo de “joggers“.
Cristina Calderón está no meio da roda dos jovens, um tanto perdida. Em seu nariz largo se apoiam óculos grandes e redondos com lentes grossas, através das quais pequenos olhos despertos olham para uma distância qualquer, que não existe mais. Uma emoção estranha toma conta de mim, quando me vejo frente a frente com uma última descendente “de raça pura”.
Mas, afinal, o que quer dizer “raça pura”? Existe isso quando se fala de seres humanos? Os povos indígenas extintos não continuam a viver nos traços dos argentinos e chilenos, que em sua maioria têm sangue misturado em suas veias? E no caso dos ingleses, espanhóis e russos, que se formaram a partir de vários povos?
A igreja em Castro, na Ilha Chiloé, é “totalmente construída de tábuas”, anota Darwin. Durante a viagem germinam dúvidas, mas o pesquisador ainda não desiste da fé em um Deus Criador
Durante a viagem, a luz da fé perde força
“O que significa ser a última de uma linhagem?” – “Eu acho que é o tema da minha vida.” – “E isso quer dizer o quê?” – “Que a minha vida fala.” – “Teria uma mensagem para aqueles que virão após a senhora?” Ela dá de ombros. “Ou melhor, espere, escreva: a sabedoria é imortal.”
Uma vez por semana, uma balsa vai do patagônio Puerto Natales para Puerto Montt, no sul do Chile. Ela leva três dias e noites. Após aproximadamente um terço de seu caminho, ela segue o mesmo rumo do Beagle – uma das viagens de navio mais excitantes que se pode fazer hoje em dia: através de hidrovias tortuosas, passando por geleiras poderosas, ilhas minúsculas com torrezinhas de sinalização e uma única aldeia com o belo nome de Puerto Eden.
É um lugarejo cheio de melancolia, com aproximadamente 300 pessoas, os últimos kaweskar dispersos e que moram aqui no canal Messier, sem qualquer ligação com o mundo externo. Trata-se de fueguinos que antigamente viviam em canoas, como os yámana, e com os quais ninguém sabe o que fazer desde que lhes tomaram sua terra e seu modo de vida. Hoje em dia são alimentados pelo governo.
Quando ajudo a descarregar os mantimentos, porque o guincho quebrou, a dona da venda me dirige a palavra: “O que você está fazendo? Gente rica não trabalha.” – “Eu gosto de ajudar.” – “Você quer ir para o céu, não é?” – “Não foi por isso que eu ajudei.” – “Acontece que o céu não é de vocês. Ele pertence aos pobres.” – “Nunca ouvi isso.” – “Para nós, ele contém um mundo todo, nossos sonhos, desejos e esperanças.” – “Mas para mim, também.” – “Não, para os ricos o céu está vazio. Eles já têm tudo aqui na terra.”
Quando meu navio “Evangelistas” alcança o Pacífico, a arrebentação corre impiedosa sob a quilha. Açoitadas pela tempestade, as ondas se quebram na terra íngreme. A vista de uma costa dessas é suficiente para fazer um homem da terra sonhar por uma semana com morte, perigo e naufrágios.
Após atracar em Puerto Montt, o corpo quer equilibrar o movimento do navio, do qual já saiu faz tempo. O solo firme parece estar balançando. Pela rua, do outro lado do porto pesqueiro da capital da província, movem-se caminhões com pesados barris de plástico em suas carrocerias. As manobras são feitas com muito cuidado, como se o conteúdo fosse uma mercadoria perigosa. O que será que é transportado aqui?
Do mar, a cavalo, para um dos ápices da viagem
Em um vale entre montanhas, ao sul de Santiago, dois cavaleiros iniciam sua viagem. Partindo de Valparaíso – na época de Darwin um porto idílico, hoje globalizado – o pesquisador atravessa a cordilheira a cavalo. E com base na vegetação diversa a leste e oeste da cadeia de montanhas, abre-se um princípio essencial da evolução
“O futuro”, diz Martin Hevia. Aos 42 anos e com especialização em aquacultura, o biólogo marinho dirige perto de Puerto Montt um laboratório de pesquisas da “Fundación Chile”. Dentro dos caminhões, atravessando a cidade, em velocidade mínima, as tinas carregam, principalmente, água salgada e uma carga viva: peixes. Após a criação em estações terrestres, são levados a fazendas de engorda em mar aberto. Da janela de seu escritório, Hevia aponta para a ampla baía. “Lá cresce o que o senhor terá amanhã na mesa.” Como coroas artificiais de espuma, vejo fileiras de boias brancas na água encrespada. Nelas estão dependuradas as enormes redes das fazendas de peixe.
Bem ao lado do escritório de Hevia, em galpões de chapa ondulada, estão barris redondos de plástico verde. Neles, milhares de peixes nadam sem parar, sob constante entrada de água. São sistemas automáticos de alimentação, instalações de filtragem e os tubos azuis das instalações de tratamento de água. Nada revela que aqui um homem, de maneira clássica, mas com os meios mais modernos, pode brincar de Deus: seres vivos criados como nunca existiram na natureza e também nunca existiriam sem a manipulação do homem. “Estamos ampliando a arte da criação de animais para os habitantes do mar.”
Com expressão cética, Darwin olha para o escritório da diretoria da organização de pesquisa que leva o seu nome, na Ilha Santa Cruz, em Galápagos. A craca foi colocada pelo fotógrafo com um truque
O trabalho de gente como Hevia e de inúmeros predecessores faz que Darwin, logo após o retorno à sua pátria, enxergue, de fato, a possibilidade de reconhecer o mecanismo da evolução: quando espécies, como testemunhas fósseis lhe haviam mostrado, podem desenvolver-se e adaptar-se. Quem, diariamente e diante de nossos olhos, demonstra essa capacidade de adaptação melhor que os criadores? Criação de animais nada mais é que a evolução dirigida pela mão do homem, deduz o pesquisador.
Quando Darwin coloca lado a lado a mão invisível da criação e a visível do criador de animais, vem-lhe à mente, em princípios de 1839, a ideia de sua vida: a evolução pela seleção natural. Essa seleção funciona em longo prazo, segundo o princípio no qual o melhor é o inimigo do bom. Se populações produzem mais crias do que mais tarde possam chegar à procriação, ocorre a luta pela existência, à qual, ao final, sobrevivem os “mais aptos”. Mais tarde, Darwin recorre à fórmula do filósofo Herbert Spencer e fala de “survival of the fittest.
Seu pensamento genial baseia-se em uma analogia simples: tão logo ocorra uma pressão seletiva por meio da criação, os animais, paulatinamente, seguem a direção desejada. Se na natureza surge uma pressão comparável, que, por exemplo, permita uma vantagem a camundongos mais rápidos sobre os mais lentos, por poderem fugir com mais rapidez diante de predadores, então a natureza atua como um criador de animais.
Os mais rápidos sobrevivem com maior probabilidade; com o passar do tempo, toda a população de roedores fica mais ligeira.
Nada diferente a isso fazem os criadores de animais, quando selecionam cães ou cavalos segundo a sua velocidade.
Darwin partiu para atravessar os Andes. Ele quer ver como os dois lados da cordilheira se diferenciam. O estreito de Uspallata, nos arredores da capital Santiago, conduz hoje em dia uma rodovia trafegável o ano inteiro. Curva a curva, caminhões carregados sobem com dificuldade. A cada elevação se apresenta um novo cenário. Rochas sedimentares vermelhas, púrpuras, verdes e totalmente brancas e lava preta; esses estratos são quebrados por colinas de porfiroides de todas as colorações de marrom a lilás-claro. A riqueza de cores das rochas andinas na luz mais brilhante da terra faz parte, para mim, das 77 maravilhas desse mundo.
De acordo com a escala temporal geológica, Darwin acabou de sair daqui. Tudo está ainda como ele descreve. Eu me senti feliz por estar sozinho, foi como observar uma tempestade ou ouvir o Messias com coro e orquestra completos. Essa imagem está em minha memória separada de todas as outras.
Na crista, Chile e Argentina mantêm, a poucos passos de distância um do outro, um pequeno posto militar, ambos construídos de pedras brutas. Um vento forte sopra do leste.
Caminhando mais um pouco montanha acima, o pouco oxigênio faz o coração acelerar de modo insano. A respiração curta por causa do ar rarefeito é chamada de puna pelos chilenos. Deve ter sido assim, quando Darwin teve seu momento de êxtase do reconhecimento. A única sensação que eu tive foi um leve aperto em torno da cabeça e do peito […] Os habitantes todos recomendam cebola contra a puna […] no que concerne a mim, nada teve efeito melhor em mim do que as conchas fossilizadas!
“Geralmente, os criadores falam da organização de um animal como de algo que se pode formar, algo que eles podem transformar quase a bel-prazer”
Sob os olhos do biólogo Martin Hevia desenvolvem-se, em tanques imensos, os peixes cultivados para o futuro. Nas vizinhanças de Ppuerto Montt, no Chile, os cientistas munidos da mais moderna tecnologia se dedicam ao milenar negócio da criação animal – a arte que leva Darwin à ideia da “seleção natural”
Os restos de antigos habitantes do mar no ponto mais alto da caminhada. A cordilheira inteira deve ter se erguido do oceano. E no solo oceânico se formam as próximas camadas. Apenas no espaço de tempo entre 10 e 6 milhões de anos atrás, conforme informações recentes de cientistas, os Andes se elevaram em até 2.500 metros.
A verdadeira sensação é fornecida a Darwin pela biologia viva, florescendo diante de seus olhos. Nos ele encontra material para outro tijolo de sua teoria, do qual não se pode abdicar: a separação geográfica como pressuposto para a cisão e a evolução separada das espécies. Marcante foi a considerável diferença entre a vegetação desses vales orientais e a do lado oposto: contudo, o clima bem como a característica do solo são quase idênticos, e a diferença de longitude é quase insignificante. A mesma observação vale para os quadrúpedes, e em menor grau para pássaros e insetos.
Quando dois grupos de uma mesma espécie, separados por montanhas ou águas, perdem contato entre si, eles não se reproduzem mais e, consequentemente, também não trocam mais características genéticas. Por inúmeras gerações eles se desenvolvem de maneira diferente, não podendo mais gerar descendentes e tornando- se duas espécies diferentes. Essa separação de espécies por meio de “divergência” torna-se um dos tijolos da teoria de Darwin, depois de reconhecer com nitidez bem maior o princípio do isolamento no destino mais conhecido de sua viagem, o arquipélago de Galápagos.
Alfred Russel Wallace
O homem na sombra de Darwin
Paralelamente a Darwin, um britânico desenvolve uma teoria sobre a origem das espécies
Sexta-feira, 18 de junho de 1858. Ao examinar sua correspondência, uma longa carta cai nas mãos de Charles Darwin, que havia sido postada no distante arquipélago das Ilhas Molucas. Ele lê e fica perplexo: diante dele está a sua ideia da seleção natural, claramente formulada por outra pessoa. Muito tempo já se passou desde que a maior aventura de Darwin, seu relato de viagem, foi publicada. Mas há 20 anos Darwin hesita em escrever a sua teoria sobre a origem das espécies. E agora alguém ameaça chegar à sua frente. Darwin reconhece a letra de cartas anteriores, ele sabe que o remetente, Alfred Russel Wallace, também se ocupa com a “questão das espécies”. Por que ele subestimou o potencial desse homem? Wallace, 14 anos mais novo que ele, é filho de uma família de classe média empobrecida, do País de Gales. Não estudou ciências naturais e, como oitavo filho na sequência dos irmãos, desde cedo teve de cuidar de sua subsistência, mesmo assim torna-se agrimensor. Passa seu tempo livre na biblioteca, lendo sobre zoologia e botânica. E devora os relatos de viagem de Alexander von Humboldt e de Charles Darwin. Com 25 anos de idade, parte para sua primeira expedição na região do Amazonas. Quatro anos depois retorna à Inglaterra e planeja outra viagem para breve. Em março de 1854, retorna ao mar. Seu destino é o Mar do Sul da China. Fascinado, perambula pela selva das ilhas da Malásia, identifica e determina pássaros, coleta insetos e herboriza plantas. Mas seu interesse ultrapassa a coleta de raridades: Wallace estuda os padrões de disseminação de grupos de animais e plantas, está fascinado pela diversidade biológica e pelas inúmeras variantes de algumas espécies.
Em uma tarde de fevereiro de 1858, prostrado por um ataque de malária, Wallace mais uma vez quebra a cabeça sobre a “questão das espécies” – e tem uma inspiração: se o meio ambiente se modifica, não são favorizadas em sua reprodução aquelas variantes de uma espécie que estão mais bem-adaptadas às novas condições? Assim que se restabelece da febre, escreve sua ideia e a envia a Charles Darwin. Este repassa o manuscrito de Wallace a Sir Charles Lyell e Sir Joseph Dalton Hooker, que em 1° de julho de 1858, em um encontro da LiNean Society, o leem juntamente com extratos dos escritos de Darwin sobre a teoria da “transmutação” (mais tarde, teoria da evolução). Incentivado pela carta do concorrente, Darwin publica, cerca de um ano depois, seu famoso livro A origem das espécies. A obra monumental obscurece o manuscrito de 20 páginas de Wallace, que cai no esquecimento.
Injustamente, como acreditam alguns biólogos, Wallace também deu importantes contribuições para a teoria da evolução. Contudo, ele nunca contestou a primazia de Darwin. Quando o pesquisador naturalista retorna dos trópicos, trava amizade com Darwin, que escreve mais tarde: “O que mais me admira em Mr. Wallace é que ele não me inveja em nada. Ele deve ter uma índole acentuadamente boa e nobre. O que se deve valorizar mais do que simples inteligência”.
Após sua viagem pelo mundo, Darwin se dedica por oito anos ao estudo dos bálanos, um grupo de animais do qual fazem parte as cracas-das-pedras. Por isso ele deixa de lado o trabalho em sua grande teoria da “transmutação”
A noite cai sobre a Cordilheira dos Andes e ativa os monitores no Observatório Europeu do Sul (ESO). Um meio de os pesquisadores dirigirem imensos “olhos” em direção às profundezas do Universo. Graças à atmosfera extremamente seca dos Andes, a Via Láctea brilha aqui mais intensa e mais estrelada do que em outro lugar qualquer. Os cientistas da ESO procuram também por planetas similares à Terra. Existe vida lá? Ela se desenvolve segundo os mesmos princípios que aqui? Eis um teste para a teoria de Darwin
Quando finda o dia, começa o trabalho dos pesquisadores do céu
Finalmente em um navio chamado Beagle, ponto culminante da viagem, 1 grau sul, 90 graus Oeste – Galápagos. O brigue, um barco esbelto de dois mastros, construção de 1970, segue rápido com o vento. As velas brancas estão esticadas, um mar de azul profundo. E no horizonte se veem as silhuetas de algumas ilhas. Focas saltam das ondas, caçando peixes-voadores. Atobás se arremessam como flechas sobre a superfície da água. No céu, com asas estendidas, velejam os pelicanos.
Nenhum outro lugar traz o nome de Darwin à memória como esse arquipélago, pouco menos de mil quilômetros diante da costa do Equador. Aqui surgiu o mito do gênio, a quem a vida, em forma de bicos de aves e carapaças de tartarugas, havia confiado um profundo segredo.
É por essa razão que, no começo, Darwin anda meio a esmo, como o fazem atualmente turistas curiosos. Ele descreve o iguana-marinho com a mesma surpresa horrorizada que acomete qualquer visitante. O animal tem uma aparência feia, de coloração preta, bobo e lerdo em seus movimentos. Em quase nenhum lugar do mundo tem-se a sensação de estar viajando no tempo, por épocas passadas, como aqui.
É por essa razão que, no começo, Darwin anda meio a esmo, como o fazem atualmente turistas curiosos. Ele descreve o iguana-marinho com a mesma surpresa horrorizada que acomete qualquer visitante. O animal tem uma aparência feia, de coloração preta, bobo e lerdo em seus movimentos. Em quase nenhum lugar do mundo tem-se a sensação de estar viajando no tempo, por épocas passadas, como aqui.
O ornitólogo John Gould, que examina os achados de Darwin, chama sua atenção sobre as diversidades. Os pássaros, todos eles até então desconhecidos da ciência, pertencem sem exceção à família dos fringilídeos. Eles formam um grupo próprio, restrito à localidade de Galápagos.
Testemunhas emplumadas de destaque em Darwin estão ameaçadas: a varíola aviária provoca tumores sob as asas de alguns pássaros. Recintos que abrigam tentilhões para observação são assaltados pelos ratos (pesquisadores analisam rastros de mordidas em ovos de massa espalhados pelo local)
Aproximadamente um ano após a visita de Charles Darwin ao arquipélago, ainda antes de retornar à Inglaterra, um parágrafo em suas notas zoológicas mostra como os acontecimentos em Galápagos o deixam inquieto. Ele acabou de catalogar seus tordos e notou que as diferentes espécies podem ser ordenadas a ilhas isoladas. Eu tenho exemplares de quatro ilhas maiores […] Em cada uma delas se encontra exclusivamente apenas um tipo.
Não foram os fringilídeos, que podem ser encontrados em qualquer livro escolar de biologia, que o colocaram na pista, mas sim tordos discretos. Vendo suas peles, ele se lembra da informação do inglês Nicholas Lawson, governador do Equador em Galápagos, de que as tartarugas de diferentes ilhas podem ser diferenciadas conforme suas carapaças. Se existir o mínimo fundamento para essas observações, valerá a pena examinar a zoologia do arquipélago, pois tais fatos solapariam a estabilidade das espécies.
Podemos imaginar a ocasião como um dos momentos mais iluminados de sua vida: Darwin descobre que espécies imigradas para o arquipélago se adaptam às respectivas condições locais, diferenciando- se de ilha para ilha. Ilhas como as de Galápagos representam a forma ideal daquele princípio que já se esboçava para o pesquisador naturalista nos Andes: o isolamento geográfico. O que em outros lugares se forma ao longo de milhões de anos por meio de coevolução complicada, pode surgir em terra virgem em bem menos tempo.
As espécies, portanto, não conseguem apenas se desenvolver (por meio da evolução), como fósseis e criação já lhe haviam mostrado, mas podem apartar-se em diversos gêneros pela separação espacial. É apenas com essas ramificações na árvore da vida que Darwin pode explicar a desconcertante diversidade do mundo vital.
Durante sua estada em Galápagos, Darwin não compreende mais dos processos do que os visitantes de hoje. Em vez disso, o pesquisador faz travessuras com as tartarugas. Divertia-me sempre quando eu ultrapassava um desses grandes monstros em sua marcha pausada e ele, no momento em que eu passava, encolhia a cabeça e as pernas e, sibilando, caía na terra, com uma batida dura, feito morto.
O que protege as tartarugas contra todos os outros inimigos naturais, falha em confronto com o pior deles. Estima-se que 200 mil morreram em 200 anos para fornecer carne fresca aos homens. Algumas espécies morreram. Quando a estação de pesquisa Charles Darwin interveio na Ilha Espanhola havia ainda apenas 12 fêmeas e 2 machos. Porém, desde os anos 70 do século passado estão sendo procriadas com sucesso, retornando depois ao seu habitat natural.
 O laboratório da evolução em apuros

As Ilhas Galápagos, ligadas ao nome de Darwin como nenhum outro lugar, atraem atualmente, da mesma forma, pesquisadores e turistas: a bióloga Birgit Fessl coleta, em armadilhas de funil, invertebrados da camada das folhas. As tartarugas-gigantes suportam com paciência os visitantes que se aproximam demais delas

Porque o jantar à luz de velas se torna uma ameaça
Nem toda criatura desperta veneração em Charles Darwin. Ele reprova os iguanas-marinhos do Arquipélago de Galápagos, chamando-os de “feios”. O entomólogo Lázaro Roque estudou como navios de cruzeiros influenciam a fauna das ilhas. Sua conclusão: as luzes dos barcos atraem milhares de insetos que a bordo conseguem chegar em terra, para dano do biossistema

Para o habitante mais famoso do arquipélago, todavia, o socorro da estação veio tarde demais. “Lonesome George”, da Ilha Pinta, é o último de sua espécie. Em uma estação de procriação, ele divide seu recinto com duas fêmeas de uma espécie parecida da Ilha Isabela. Como elas lhe são geneticamente mais próximas, poderiam procriar com seu esperma.
Visitantes jogam moedas na água e lhe desejam boa sorte. De alguma forma, ele compreende seu imperativo biológico e procura as fêmeas, que regularmente se evadem. Aa frustração na cara anciã de George parece evidente: uma melhor imagem simbólica Galápagos não pode fornecer. Com um único representante solitário, uma espécie se despede deste planeta após zilhões de anos.
a tualmente, o turismo é mais perigoso para o arquipélago do que qualquer catástrofe natural. O número de visitantes aumenta constantemente; com 140 mil por ano, o limite colocado há poucos anos está bem ultrapassado. Em 50 anos, o número de habitantes do arquipélago pulou de inofensivos 2 mil para 30 mil. Nos tempos de Darwin eram de 200 a 300. Os esgotos são despejados sem tratamento no mar, as pastagens ampliadas, animais domésticos tornam-se selvagens, cabras já viraram praga, os pescadores ameaçam os pesquisadores por causa de cotas de pesca devidas à proteção ambiental. Aa Unesco colocou agora o arquipélago na lista do patrimônio mundial em perigo.
Com seu livro A origem das espécies, Darwin escreveu uma bíblia da biologia, o único livro de peso que trago comigo do começo ao fim da viagem. E não apenas de forma eletrônica. No ambiente paradisíaco-infernal, de tempos ancestrais de Galápagos, a obra se lê como a defesa do último advogado da humanidade diante do Juízo Final. O argumento final simplesmente não dá para não ler, reler e reler: Há uma grandeza nessa visão da vida, com seus diversos poderes, os quais foram soprados originalmente pelo Criador em poucas ou em apenas uma forma; e que, enquanto este planeta continuou girando segundo a lei fixa da gravidade, a partir de um princípio tão humilde, tenham surgido e continuem a surgir infinitas formas, as mais belas e as mais maravilhosas.
Enquanto escrevo estas linhas, recebo uma notícia da estação Darwin: “Finalmente encontrados dois ninhos, alguns ovos estão na incubadora, e em alguns meses se saberá se realmente haverá procriação ou não!” Talvez “Lonesome George” não fique tão sozinho, afinal.
A caminho

No único dia da viagem em que o fotógrafo Peter Ginter e seu assistente, motorista e tradutor, o argentino Fernando Gomez Bellocq, pretendiam descansar um pouco, bastou uma olhada pela janela, de manhã, para fazer os dois respirarem mais rápido: o vulcão Chaitén cuspia nuvens de cinzas a quilômetros de altitude no céu chileno. Contudo, documentar a devastação de bem perto foi vedado aos dois. Por duas vezes se encontravam na balsa totalmente vazia de Puerto Montt para Chaitén, mas soldados obrigavam-nos a retornar.
Durante seis meses, o escritor científico Jürgen Neffe planejara e organizara quase todos os dias, até que sua viagem pelo mundo, igual à de Darwin, pudesse começar. A visita ao arquipélago de Galápagos havia sido planejada como um clímax – mas deixou sentimentos desencontrados.
Na verdade, Neffe acredita que o maior número possível de pessoas deveria ter a possibilidade de ver esse mundo de maravilhas – a fim de se entusiasmarem pela proteção ambiental. Por outro lado, para salvá-las em sua unicidade, as ilhas deveriam ter seu acesso completamente negado.

Fonte: http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/2/artigo134752-1.asp

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24/06/2009 Posted by | Curiosidades, Evolução, Textos Biológicos, Zoologia | Deixe um comentário

Brasil era visto como "laboratório racial"

Brasil era visto como “laboratório racial” e autores apontavam “perigos da miscigenação” no século 19

No século 19, cientistas europeus enxergavam o Brasil como um “laboratório racial”, no qual acontecia o “fenômeno” da miscigenação. Ao mesmo tempo, estudiosos brasileiros como Nina Rodrigues e Sílvio Romero produziam artigos e estudos que destacavam as “mazelas” e os “perigos” da miscigenação.
As informações são do livro “Racismo no Brasil”, da coleção “Folha Explica”, da Publifolha. Escrito pela antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, da USP, o livro ajuda a entender o cenário em que se construiu, historicamente, o “racismo à brasileira”.
Leia abaixo trecho do livro que trata desse período do século 19.
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O “LABORATÓRIO RACIAL” BRASILEIRO
Foi só no século 19 que os teóricos do darwinismo racial fizeram dos atributos externos e fenotípicos elementos essenciais, definidores de moralidades e do devir dos povos.14 Vinculados e legitimados pela biologia, a grande ciência desse século, os modelos darwinistas sociais constituíram-se em instrumentos eficazes para julgar povos e culturas, a partir de critérios deterministas, e, mais uma vez, o Brasil surgia representado como um grande exemplo; dessa feita, um “laboratório racial”.
Apenas dessa maneira se explica, por exemplo, que já em 1844 o recém-criado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro tenha realizado seu primeiro concurso, apresentando como mote o seguinte desafio: “Como Escrever a História do Brasil”. Mais interessante do que a proposta em si (indicativa de como naquele momento se “inventava uma história local”, que deveria ser diferente daquela da metrópole portuguesa) foi o resultado. O vencedor foi o naturalista estrangeiro Von Martius, defensor da tese de que a trajetória brasileira seria construída através da mistura de suas três raças: “Devia ser um ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o aperfeiçoamento das três raças humanas que nesse país são colocadas uma ao lado da outra, de uma maneira desconhecida na história antiga e que devem servir mutuamente de meio e fim”.15
Utilizando-se da metáfora de um poderoso rio purificador, correspondente à herança portuguesa, que deveria “absorver os pequenos confluentes das raças Índia e Ethiopica”, o Brasil surgia representado pela particularidade de sua miscigenação. O país seria, portanto, o resultado futuro e promissor da convergência de três afluentes diferentes, que faziam as vezes das raças – a branca, a negra e a vermelha -, e sua singularidade ficava vinculada à conformação específica de sua população.
Não foi acidental, aliás, o fato de a monarquia brasileira, recém-instalada, ter investido numa simbologia tropical, que misturava elementos das tradicionais monarquias européias com indígenas, poucos negros e muitas frutas coloridas. Tornava-se nesse momento complicado destacar a presença africana, uma vez que ela lembrava a escravidão; mas nem por isso a realeza abriu mão de pintar um país que se caracterizava por sua coloração racial distinta.
Não obstante, se logo após a independência política de 1822 as elites intelectuais locais, adeptas da voga do romantismo, selecionaram no indígena (mitificado e afastado da própria realidade) um modelo de nacionalidade, já em finais do século 19 os negros e mestiços, até então ausentes da representação oficial, acabaram sendo apontados como índices definidores da degeneração, ou como os responsáveis pela falta de futuro deste país. Autores como Nina Rodrigues, da Escola de Medicina da Bahia; Sílvio Romero, da Escola de Recife; e João Batista Lacerda, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, entre tantos outros, destacaram “as mazelas da miscigenação racial” e, informados por teorias estrangeiras, condenaram a “realidade mestiça local”.
A interpretação realista da geração dos anos 1870 se contrapôs, dessa maneira, à feição positiva cuidadosamente imaginada pela elite imperial. Surgindo na contramão do projeto romântico, os autores de final do século inverterão os termos da equação ao destacar os “perigos da miscigenação” e a impossibilidade da cidadania. Já em maio de 1888, um artigo polêmico, assinado por Nina Rodrigues, aparecia em alguns jornais brasileiros. Nele, o médico ajuizava: “os homens não nascem iguais. Supõe-se uma igualdade jurídica entre as raças, sem a qual não existiria o Direito”. Desdenhando do discurso da lei, logo após a abolição formal da escravidão, esse “homem de sciencia” passava a desconhecer a igualdade e o próprio livre-arbítrio, em nome de um determinismo científico e racial.
Nina Rodrigues não se limitava, porém, aos periódicos. Em 1894, publicou As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil), em que não só defendia a proeminência do médico na atuação penal, como advogava a existência de dois códigos no país – um para negros, outro para brancos -, correspondentes aos diferentes graus de evolução apresentados por esses dois grupos. Falando de um lugar privilegiado, intelectuais como Nina Rodrigues entendiam a questão nacional a partir da raça e do grupo e, dessa maneira, inibiam uma discussão sobre cidadania, no contexto de implantação da jovem República.
A adoção desses modelos não era, como se pode imaginar, tão imediata, mesmo porque implicava concordar que uma nação de raças mistas, como a nossa, era viável e estava fadada ao fracasso. No entanto, se internamente a interpretação gerava posições paradoxais, parecia não existir dúvidas com relação à visão que vem de fora: o Brasil havia muito tempo era entendido como um “laboratório racial”, um lugar onde a mistura de raças era mais interessante de observar do que a própria natureza.
Agassiz, por exemplo, viajante suíço que esteve no Brasil em 1865, fechava seu relato da seguinte maneira: “que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças, e inclua por mal-entendida filantropia a botar abaixo todas as barreiras que a separam, venha ao Brasil. Não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças, mais geral aqui do que em qualquer outro país do mundo, e que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio, deixando um tipo indefinido, híbrido, deficiente em energia e mental”.16 Gobineau, que permaneceu na corte do Rio de Janeiro durante quinze meses, como enviado francês, queixava-se: “Trata-se de uma população totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia”.17
Gustave Aimard, que andou pelo país no ano de 1887, assim descrevia o “espetáculo das raças” que assistia: “J’ai remarqué un fait singulier que je n’ai observé qu’au Brèsil: c’est le changement qui s’est opéré dans la population par les croisement des races, ils sont les fils du sol” [Observei um fato singular, que só encontrei no Brasil: a mudança que se opera na população pelo cruzamento das raças – são os filhos do solo].18
Não se trata aqui de acumular exemplos, mas apenas de demonstrar como, nesse contexto, a mestiçagem existente no Brasil era não só descrita mas também adjetivada por esses pesquisadores estrangeiros, constituindo uma pista para explicar o atraso, ou possível inviabilidade, da nação. Mas mais interessante do que ficar repassando o discurso produzido alhures é enfrentar o debate local. Aqui no país, ao lado de um discurso de cunho liberal, tomava força, em finais do século 19, um modelo racial de análise, respaldado por uma percepção bastante consensual de que este era, de fato, um país miscigenado.19
13 Banton, p. 264.
14 Estamos falando de autores como Gobineau, Le Bon e Taine, que procuraram
estabelecer uma correlação entre atributos externos (físicos) e internos (morais), fazendo
da raça um elemento ontológico e definidor do futuro das nações.
15 Martius, “Como Escrever a História do Brasil”, p. 381.
16 Agassiz, p. 71.
17 Raeders, p. 96.
18 Aimard, p. 255.
19 Os censos revelavam que, enquanto a população escrava se reduzia rapidamente, a população negra e mestiça tendia progressivamente a aumentar: 55% em 1872. 
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31/05/2009 Posted by | Evolução, Genética, Textos Biológicos | Deixe um comentário

Nascimento do inimigo nº 1 dos criacionistas completa 200 anos

Há exatos 200 anos, no dia 12 de fevereiro de 1809, nascia em Shrewsbury, no Condado de Shropshire (Inglaterra), o homem que iria revolucionar o estudo da ciência: Charles Robert Darwin. O trabalho dele, com a teoria da evolução das espécies por meio da seleção natural, não só lançou as bases da biologia moderna mas também influenciou outras áreas do conhecimento, como a antropologia, psicologia, política e economia.
Charles Darwin é considerado o pai da biologia moderna; ele usou a observação da natureza e análise dos seres para construir sua teoriaA teoria da evolução proposta por Darwin no livro “A Origem das Espécies” chega aos 150 anos praticamente imbatível na comunidade científica –recebidas com receio no início, as propostas do inglês ganharam força no século 20 com as descobertas sobre a transmissão hereditária de características dos seres, por meio dos genes.
Darwin é considerado o pai da biologia moderna; ele usou a observação da natureza e análise dos seres para criar sua teoria
Ainda existe uma forte oposição dos criacionistas, que defendem que a Terra foi criada por Deus em seis dias, mas há poucos argumentos científicos para essa ideia, presente no livro de Gênesis, na Bíblia.
“Darwin criou uma nova fronteira na ciência, ao determinar que as questões naturais precisam ser compreendidas por meio de processos da natureza. Isso faz uma diferença enorme, dissocia a ciência do pensamento religioso. Antes as perguntas terminavam em respostas sobrenaturais”, afirma Maria Isabel Landim, professora do Museu de Zoologia da USP (Universidade de São Paulo).
 
Adaptar para sobreviver
Venceu a proposta segundo a qual todos os organismos da Terra, de uma bactéria ao homem, descendem de um antepassado comum –a relação mais usada é feita entre humanos e macacos, que também tiveram a mesma origem, mas vale para qualquer organismo, segundo a teoria de Darwin.
Ele identificou evidências desse parentesco, por exemplo, por meio das semelhanças anatômicas existentes entre diversas espécies. Um exemplo disso são os ossos de membros anteriores de animais como baleias, morcegos, chimpanzés e o homem. Apesar de terem formas diferentes e serem usados para funções diferentes, como pegar objetos, subir em árvores ou sustentar nadadeiras, esses ossos apresentam fortes semelhanças de estrutura, o que indica uma ascendência em comum.
A existência de evolução entre as espécies já havia sido proposta antes, mas o “pulo do gato” de Darwin foi a formulação da teoria da seleção natural. Segundo essa linha, as variações entre os indivíduos de uma população surgem ao acaso: mais tarde, os estudos de genética fortaleceram essa ideia, com a descoberta da existência de recombinações e mutações gênicas, que se disseminam por meio da reprodução.
Karime Xavier/Folha Imagem
Darwin identificou evidências de parentesco entre os seres por meio de semelhanças anatômicas existentes entre as espécies
Darwin identificou evidências de parentesco entre os seres usando as semelhanças anatômicas entre espécies
O pesquisador postulou, então, que os indivíduos com características que favoreçam sua existência em cada ambiente tendem a deixar mais descendentes, o que ajuda em sua perpetuação. Os menos preparados tendem a diminuir em número e, possivelmente, desaparecer.
Coleta
Um dos diferenciais do trabalho de Darwin foi seu intenso trabalho de campo, com observações e coleta de amostras de animais e plantas. Para isso, foi determinante a viagem que ele fez ainda jovem, aos 22 anos, a bordo do navio HMS Beagle.
Entre 1831 e 1836, Darwin pesquisou regiões da África, América do Sul e Oceania, percebendo as diferenças existentes nas características de fauna, flora e geologia de cada uma. As análises dessas amostras serviram de base para o desenvolvimento dos conceitos de evolução e seleção natural. Darwin classificava a viagem como “o evento mais importante de sua vida”.
Entretanto, se passaram mais de 20 anos até que “Origem das Espécies” fosse publicado, em 1859. Os cerca de 1.250 exemplares da obra se esgotaram no dia do lançamento, e as ideias do pesquisador geraram forte polêmica na época, principalmente na Igreja Anglicana –a Igreja Católica afirma que nunca condenou Darwin e diz que suas obras não foram incluídas em seu Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos).
Origem no macaco
No ano seguinte, durante um debate na Universidade Oxford, o bispo Samuel Wilberforce perguntou ao biólogo T. H. Huxley se ele era descendente de macacos por parte dos avós paternos ou maternos. Huxley foi um dos grandes defensores da teoria e se denominava o “bulldog” de Darwin.
O próprio pesquisador nunca se envolveu muito na polêmica: preferiu que seus apoiadores o representassem na “briga”. “Ele era uma pessoa muito reservada, não era polemista e recusou vários convites para debater suas ideias”, afirma Nélio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP.
De acordo com Bizzo, Darwin “prezava pelas críticas” e as respondia de maneira muito “polida e respeitosa”. Ele chegou a alterar trechos de “Origem das Espécies”, em edições posteriores, em razão de apontamentos feitos por outros cientistas.
Para Maria Isabel Landim, do museu de zoologia, a teoria da evolução proposta por Darwin chega aos 150 anos em clima de unanimidade na comunidade científica. “O que existe são outras contribuições para entender o processo evolutivo, e não uma contestação clara a ele. A grande batalha é a questão do criacionismo versus evolucionismo. Essa questão é incontestável.” 
 Origem: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u502232.shtml

25/05/2009 Posted by | 3° Ano Biologia, Evolução, Textos Biológicos | Deixe um comentário

Biologia Evolutiva – Evolução


Anagênese (a) e cladogênese (b): tipos de especiação.

A teoria da evolução busca respostas acerca do surgimento das espécies (especiação) em nosso planeta, ao longo do tempo. As semelhanças entre elas, e as adaptações destas ao meio em que vivem, são alguns dos argumentos a favor da teoria. Registros fósseis e evidências moleculares também fornecem evidências acerca deste processo biológico.

Darwin – o primeiro nome que nos vem à mente quando se fala em evolução – é um dos diversos estudiosos que pensaram acerca destes mecanismos. Lineu, Lamarck e Wallace (coautor da teoria da evolução por seleção natural, proposta também por Darwin), são mais alguns nomes que muito contribuíram para a compreensão dessa ciência.

Mais recentemente, August Weissmann, De Vries, Fisher, Haldane, Mayr, Simpson, Stebbins, Romanes, Ruxley, dentre outros, foram capazes de explicar lacunas existentes nas ideias de Darwin e Wallace, por meio da teoria sintética da evolução, ou neodarwinismo: modelo aceito atualmente.

Para tal, as leis de Mendel, mais tardiamente difundidas, muito contribuíram, já que Darwin morreu sem encontrar um modelo de descendência/hereditariedade consistente e compatível com sua teoria. Uma curiosidade quanto a isso é que Darwin possuía em sua biblioteca as publicações do “pai da Genética”, mas sem, no entanto, ter tido a oportunidade de compreendê-lo – ou mesmo de lê-las.

Muitos cientistas acreditam, hoje, que todas as áreas da Biologia (Genética, Ecologia, Bioquímica, Fisiologia, Embriologia, Paleontologia, dentre outras) só terão coerência se estiverem contextualizadas sob um enfoque evolutivo.

Quanto a isso, o geneticista russo Theodosius Dobzhansky (1900- 1975) pontuou:

“Nada em biologia faz sentido senão sob a luz da evolução”.

Você concorda com esta frase?

Os artigos da seção “Biologia Evolutiva” poderão auxiliá-lo a refletir acerca desta afirmação.

Boa leitura!

Fonte: Portal Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/biologia/biologia-evolutiva.htm
Por Mariana Araguaia
Graduada em Biologia
Equipe Brasil Escola

26/04/2009 Posted by | 3° Ano Biologia, Evolução, Textos Biológicos | Deixe um comentário

Origem da Vida


As mudanças ambientais e a evolução hominídea (o surgimento da espécie Homo sapiens).
A origem dos seres vivos está intimamente associada às circunstanciais transformações ocorridas desde a formação do planeta Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos, passando por momentos de aquecimento e resfriamento, radiações UV, descargas elétricas, intenso vulcanismo, precipitações e evaporações.

Em virtude de tais acontecimentos, com incidência direta sobre compostos e elementos químicos da atmosfera primitiva: gás carbônico, gás nitrogênio, amônia, gás hidrogênio, metano, e vapor d’água, foi possível uma reorganização molecular que passou por alterações gradativas, a ponto de viabilizar o surgimento de uma rudimentar estruturação orgânica (os coaservados), evolutivamente capazes de promover interações entre si e com o meio.

Indícios revelam a existência de vidas (os fósseis), contidos no arcabouço geológico transcorrido 1 bilhão de anos desde a formação do planeta.

Fonte Sítio Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/biologia/origem-vida.htm

26/04/2009 Posted by | 1° Ano Biologia, 2° Ano Biologia, 3° Ano Biologia, Evolução, Origem da Vida | Deixe um comentário